
Depois que criaram esse negócio chamado blog, todo mundo virou fotógrafo, cronista, celebridade, filósofo e intelectual. Até eu estou aqui. E a coisa está crescendo tanto que virou matéria de capa de revista famosa. Pelas minhas andanças na internet, acredito que dois por cento de seu conteúdo seja de assuntos realmente interessantes e bem fundamentados. No mais, são imbecilidades vestidas como grandes verdades, sexo e rock´roll. Quanto ao meu (blog), decida você.
O assunto inquietante que se arrasta ao século XXI, visto e revisto pelos blogs, é a violência. Seja ela urbana ou não, ela acontece aos nossos olhos. Os motivos são vários, tal qual as receitas de como acabar com este irritante fantasma que nos cerca. Botam culpa no governo, na miséria, na igreja, na corrupção, na televisão e até na internet. E a internet, já sabemos, é um lugar sinistro onde pessoas sinistras falam de assuntos sinistros. A televisão é o espelho do nosso cotidiano; o resto, cada um que tire suas próprias conclusões. Então, de quem é a culpa?
Historicamente falando, e psicologicamente suscitando, para nós sempre haverá um herói e o derrotado, um bandido e o mocinho, o certo e o errado, o inocente e o culpado. Precisamos etiquetar tudo e todos para sabermos, caso esqueçamos, quem é quem. É da gente, não adianta mudar. Somos assim desde Adão e Eva, ou se preferir, desde a cadeia evolucionista da espécie humana. Somos impelidos a procurar um boi de piranha, a matar a cobra e mostrar o pau, a dar a César o que é de César e dizer com quem andamos para que saibam quem somos.
A violência sempre existiu na história da humanidade. As conquistas heróicas, as grandes batalhas, as grandes e pequenas guerras sempre existiram à base de sangue e suor. Foi dentro deste quadro que a humanidade se criou. Foi desses momentos ensandecidos que a medicina prosperou, que a culinária foi criativa, que a arquitetura inovou e a engenharia se superou. Óbvio que a indústria bélica também foi incrementada. Embora este avanço tecnológico tenha sido de grande valia, mas oriundo de motivos que a sensatez desconhece, havia nesses atos motivações políticas ou religiosas. Por mais que fosse o ensejo mesquinho, havia uma revolta de povos, de nações, de luta pelas suas bandeiras. Havia ideologia.
Estes motivos ainda perduram aos nossos dias, por mais que tentemos evitar com preces e orações, diálogos e tratados. Mas não falo desta luta motivada por nacionalismo ou religiosidade. Falo de uma luta que leva a morte para milhares de pessoas por dia nas grandes cidades do planeta. É a morte sem motivo. É a morte, como diria o Arnaldo Jabor, babaca. É a morte que acabou de acontecer ali na esquina. É a violência do ser humano contra o ser humano do mesmo país, da mesma cidade, do mesmo bairro e, se duvidar, do mesmo time de futebol. É a violência nascida da filosofia do querer é poder, e que dane o resto.
Existe uma mentalidade consumista em que se você não estiver inserido, você é um paria na sociedade. Compramos diariamente a idéia de que temos que ter uma tv de LCD, um carro do ano, um corpo de manequim, uma vida de atleta e um salário de magnata. Ouvi uma frase ótima outro dia, em que dizia, se você não nasceu rico, vai morrer tentando. E é justamente nesse “tentando” que mora o perigo. E se você não tiver paciência pra ficar tentando? Lembre-se que vivemos numa correria desembestada para sermos o quê nunca seremos, para termos o quê nunca teremos, para ir naquela festa que nunca seremos convidados. Mas mesmo assim, continuamos a imaginar que um dia, a sorte vai nos sorrir.
Cara, a sorte não está nem aí pra você. A sorte é de quem não a procura; espera. E nessa espera, curta a vida. Há quanto tempo você não olha para o céu? Há quanto tempo você ficou de dar aquele telefonema para um amigo, mas não teve tempo? Há quanto tempo você não vai de um lugar para outro, sem que tenha um objetivo em mente? Relaxe, vai passear, visite, olhe, pense, cante, dance. Exercite o diálogo, entre numa livraria, tome um chopp, elogie o cachorro do vizinho. De vez em quando, seja um pouco maluquinho. Às vezes, reze. (Mas não muito pra não encher o saco do santo). O importante é manter a mente limpa de novidades desnecessárias, de que você tem que ser o maioral, o bem sucedido, o fenômeno.
Viemos pra cá com alguma missão pré-estabelecida e, se for a sua missão pastar o tempo todo, que paste. Mas paste com maestria. Se na sua vida não acontece nada de interessante, se não lhe ocorre nada espetacular ou motivador, dane-se. Continue pastando. Deixa o resto da humanidade correr atrás do sucesso, do luxo, do inútil. Um dia todos nós vamos ter que largar tudo isso mesmo… Então pra que se matar de trabalhar, de se amargurar, de se dizer injustiçado, essas coisas… Bobagem. Curta a vida com simplicidade que você vai se sentir bem melhor. Óbvio, se te chamarem pra passar o reveillon num iate, me chama, lógico. Mas se tiver que ficar a ver navios, veja.
Para não dizer que eu não perdi o fio da meada, penso que ao levarmos uma vida simples e gostarmos dela; o quê vier a mais, é lucro. É justamente pela humanidade não pensar assim é que temos as notícias que lemos. Os que não são favorecidos com família e escola, vão querer queimar etapas e “tentar” a sorte grande a todo custo. É neste exato momento que nasce o furto, o assalto, o seqüestro, a morte e, com a quantidade que há, nasce a banalização da morte. Os meios de comunicação de massa se limitam a noticiar o fato, a estatística e dizer simplesmente: “…mais uma vítima…”. Mas isso já está ficando cada vez mais chatinho de noticiar e não vende como antes. A violência, assim como a seca do nordeste, ainda é causa para se subir em muitos palanques por muito tempo. E pela experiência nordestina, ainda vai haver muita bala perdida. Ah, vai.